quinta-feira, abril 28, 2011

Escrita

Faz muito tempo que me ausentei da escrita, parece que ela me exercita a ser algo mais. E quando não escrevo vivo quase no desprezo, marginal aos sentimentos e alheia aos fatos que me ocorre. Neste continuo jogo de não escrever tenho visto tanta coisa parido tanta idéia solta que as vezes me assombra que filhos meus andam sem corpo, pois uma idéia sem papel é um filho sem corpo.

As vezes tenho muito o que falar, mas, não tenho voz absoluta para dizer me limito a falar pouco, a pensar muito e a ponderar todos os meus textos guardados. Vai ver é assim, existe uma reserva do poeta, ele se reserva na escrita na fala e no pensamento, pois tem coisas que necessitam de uma grande fermentação. Muitos escolhem mesas de bares para fermentação eu escolho a solidão. Parece-me um tanto conveniente escrever sobre ela e narrar o quanto trabalhamos bem neste dueto unisoro.

Esta escrita que faço agora, é algo não muito poético ou extraordinário e a simples vontade de verbalizar o processo de escrita, que a muito não o realizo por um simples fato, a falta do que falar, penso o leitor esgotado de esgotamentos de vida tento que ver mais uma poesia ou conto, o que aquilo vai de substância falar com ele, gosto de imaginar como as pessoas reagem quando lêem algo que eu escrevi, e como se fosse uma tentativa de ler o futuro, imagino cada passo neste processo e não tenho uma idéia final do resultado, ou pode até ser que eu tenha, mas, não gosto de ficar imaginando como pode ser o processo final de uma leitura. Gosto é de criar sobre ela.

O processo da escrita parte de uma necessidade de dizer algo a alguém de ser claro. De escrever uma carta sem o destinatário certo, é dar um tiro e não saber se quer onde ele foi parar. Escrever é a arte de fazer pintura e não ver a platéia o que me lêem são tão invisíveis. Estou pensando em quebrar a quarta parede e ser leitora de mim mesma, acho que assim eu paro de escrever um dia...

Menina Azul

Em uma tarde rosa, a menina azul, sorria o branco e acenava com suas mãos, era uma partida cinza. O barco verde deslizava pela água vermelha. E a saudade amarela já começava apertar, quando ela grita o roxo.
- Vou sentir saudades!
E escorre o translúcido prata que diz em um abafado som.
- Eu mais ainda!
As folhas se colorem e descolorem até a chegada da carta branca. Dizendo as mesmas saudades e as boas novas vermelhas.
E as intensidades em tardes rosas da menina azul continuam

Conto Encantado

Dois três botões para começar
depois alguns alinhavos para completar;
Cristais, lantejoulas, paetês, confeccionar
Um vestido rendado de céu;
Para se vestir um conto encantado de véu.

Sapatos de cristal para começar;
Maçãs sem veneno para enfeitar;
Longos cabelos para trançar;
E um sono repousante para continuar ;
Um vestido encantado para bailar.

Um caldeirão branco para preparar;
O melhor jantar.
Um violino afinado para tocar;
E um anjo a enfeitar;
E um bolo grassado de estrelas para combinar.

E como se fosse suspensa em ar;
A dona noiva põe-se a chegar;
Com seu cavalo branco;
Passarinhos a assobiar;
Canções de um mundo distante;
Que rimam com canções de ninar.

Seu príncipe esperando;
Com seu sorriso brilhante;
Um bom moço ;
Um belo casamento;
E mais um feliz eternamente feliz.

" Homenagem aos amigos de sempre Amanda e Gu" Ad eternum

Saudades

No domingo a casa da vó, enche de cheiros;
No domingo o vô sempre lê o jornal e informa todas as noticias da semana;
No domingo o cachorro dorme no tapete;
No domingo o relógio não tem pressa para passar;
No domingo tem macarronada e frango assado;
No domingo a casa tira um ar preguiçoso, que até as arranhas se colocam a dormir;
No domingo os avós brindam a família;
No domingo a coisa mais gostosa é o abraço do vô e o beijo da vó;
No domingo começamos a semana parando no tempo;
No domingo somos um pouco meninos;
O domingo deveria ser eterno;


Por Deus! Por que eles não voltam?

Bolacha e Leite

Você tem que tomar bolacha com leite comigo. Por que a noite somos mais verdadeiros. E a Maria com o Toddy são terapeutas finais. Acho que vou falar com eles.

Surto

No mês de Março e em todos os outros, um deslise pode se tornar uma tensão como fio que toa e destoa toda a carne que percorre a todo momento uma adrenalina mortal.
Meses, viver sobre o ritmo acelerado de uma adrenalina é um vicio intenso. Um prazer que entorpece. Você espera a hora das coisas analisa regula e espera, o som do fio mais uma vez e sua carne cortando pouco a pouco. É um sangue quente rubro e intenso que jorra em uma proporção de horta.
Surtar é morrer um pouco. Cada dia um pouco. Viver o surto ou viver no surto. Viver os dois!
Por que surtar é se matar até mesmo em sonho!
Surto além de adrenalina pura é também uma ilusão paranóia, Não estamos surtando e sim criando um pseudo surto um pseudo problema. Mascaramos coisas fatos e assim vivemos mais um dia de surto. Por favor me traga a folha e o papel por que eu quero surtar em paz. Vou bater em todas as enfermeiras e desafiar todo e qualquer diretor. Tenho o gênio livre e indomável demais para ser anestesiado.

" Densas realidades as que vivemos"

Aleluia

Bicho de asa
Bicho sem asa
Corre, Voa
Baila sobre a luz
E enfim,
Morre.

Balanço

Entre o ar suspende chinelo
Entre a mangueira poeira
Entre o galho sorriso suspenso
Entre a corda mão segura
Entre as costas mão que balança
Entre a vida balanço para ver colina.

Bolinho de Chuva

A chuva trás
o cheiro
o recheio
os bolinhos

E eu me perco
a imaginar
que é tanta
chuva

Cada gota
oléo
frita
e canela
cai

Um tarde
vagarosa
morre
e me declino
a esperar
o meu amor.

Eu e Vó Divina

Desde que nasci eu e ela, ela e eu compactuamos dos mesmo sonhos do mesmo destino. Sempre gostei de seu cabelo branco do seu vestido florido e de seu modo manso de ver a vida pela janela singular das coisas.
Sua casa era uma casa antiga assim como os anos que se passaram tão devagar sobre ela, suas dores e ressentimentos caiam pouco a pouco assim como as árvores do fundo do seu quintal. Em uma tarde de inverno quando tinha 3 anos foi minha primeira visita solitária por entre as estantes de livros, tudo era tão grande e o mundo caia em cima de mim, os gatos eram bravos e o bolo de fubá quente demais, me habituei com os anos sobre as estranhezas daquela casa tão minha da poeira ao silêncio, da cultura a solidão tudo era impar.
Nos pontos aprendi tantos, entre os rococó, segredo, ponto cheio, as tardes eram nossas entre os gatos e as poltronas de veludo vermelho e ela sempre surpreendia entre um ponto e outro com uma poesia para arrematar o coração. E depois logo mais um bolo de rosas, sim, bolo de rosa, não me pergunte a receita, é coisas de família.
E quando criei asas resolvi bordar nas árvores, as mangueiras eram minhas e cada uma tinha um nome assim como as galinhas e pedras, tudo naquele grande quintal tinha nome, só não dava nome nas coisas sem graça! O regador tinha nome e a pedra que escondia o tatu também. A pareira. Fruta do Conde, Goiabeira, Baboseira, alecrim, romã tudo era meu domínio tinha gosto de aconchego de mansidão. Quando eu corria livre fingindo voar, ela sempre observava com olhar longe, talvez quisesse deixar livre enquanto eu ainda poderia ser assim.
Em tardes frescas sempre vinham as histórias do jardim ou não alimente demais as galinhas. Ela dizia que ouro demais para elas fazia mal. Ela sempre me narrou que aquelas galinhas eram de ouro por isso comiam milhos dourados. Tudo naquela casa e naquele quintal soava como se fosse mágico.
Minha Vó, tinha uma fé em tudo que era bom e era de Deus, uma fé impar, falava sobre as várias religiões e superstições, acreditava em Et e na força positiva do amor. Eu sentava com vários livros para entender Deus com 10 anos e não entendia nada sobre tudo aquilo, mas, de alguma forma acreditava que um dia entenderia...E como entendi anos mais tarde. Ela me ensinou a fé.
Era simples em essência e grande em pessoa, não sei como fazia isso.. colocava qualquer roupa, se comportava de uma forma natural e articulada não precisava falar que ela mandava, ela era e pronto, minha vó era melhor que Clarice. Escrevia coisas rotineiras que as pessoas achavam sem brilho, eu sempre achei de tamanha sensibilidade.. escrevia sobre pardais e memórias sobre flores e causos, sobre a vida...
Quando mais adulta narrou sua vida suas façanhas e sempre me dizia que eu era maior sempre maior cada vez que me via era mais gigante. Falava da força interna que devemos ter. Ela compreendia o humano no olhar, adivinhava a essência humana, e não era preciso tarot e ching, mãos e histórias. Ela entendia da humanidade do humano.
Ela entendeu do amor como ninguém amou o mesmo homem por mais de 80 anos e nunca amou mais ninguém, era como se a Davina fosse Divina para ter tanto amor assim... Em uma das conversar sobre amor disse
Amor Juliana, é como suicídio morresse um pouquinho todo dia, mas quando morresse ganhasse mais vida.
Pensei nisso por muito tempo... Ela amou.. E como amou por este amor foi capaz de tudo. Mudar o mundo o seu mundo. Criar filhos ve-los morrer. Mudar de casa. Mudar de pensamento, e até mesmo calar. Faleceu no dia dos namorados por ironia ou concordância. Não sei ao certo.
Sei que amo aquele cabelo branco, aquelas palavras certas e os teus versos e desenhos e hoje sou verso poesia prosa e fé é por você Davina Divina! Amo minha amada! Ela voou para o céu, por que quem é mágico nunca morre!

Amormeta


Eu caminho, esqueço das horas, dos dias e anos. A cada passo saio um pouco do quadro escuro, do quarto da casa e dele.

Enquanto caminho, passaram-se os anos os dias, meses e várias horas, eu não escuto e vejo mais espelho, parede. Reflexos do amor meta.. acabou esqueço..

Acabou..
Acabou.